Cesar Greco / Agência Palmeiras |
Quase cinco anos depois, o cenário do clube é totalmente diferente. Com um dos times mais fortes da América, o Palmeiras busca seu segundo título na competição. Em bate-papo exclusivo com o portal do Esporte Interativo, o camisa 1 traz lições daquela partida em que, mesmo com a derrota, o time se classificou no primeiro lugar da chave. Ele também fala sobre as dificuldades de jogar uma Libertadores, a reconstrução do Palmeiras durante esses anos e muito mais!
Esporte Interativo: O Palmeiras tinha de lidar com algo diferente naquele momento em que você chegou ao clube. Disputar uma Série B em meio a uma Libertadores. Como era isso no vestiário? Qual era a pressão que vocês colocavam em vocês mesmos para a Libertadores?
Fernando Prass: Aquele ano foi um ano bem atípico. Se eu não me engano, a posse do presidente do Palmeiras foi apenas em fevereiro. Desde dezembro os clubes começam a se preparar, ainda mais com uma Libertadores pela frente, e o Palmeiras começou o planejamento apenas em fevereiro, com o torneio já iniciado. Sem falar nas dificuldades financeira e estrutural que o clube passava. Mas a pressão sempre foi muito grande. Não muda nada em relação ao que tem aqui hoje. Não tinha aquela pressão 'Não precisa ganhar porque está na Série B'. Pelo contrário, a pressão era muito grande. Tanto é que depois do jogo contra o Tigres, na Argentina, teve aquela confusão no aeroporto com alguns torcedores, mas é óbvio que a situação do clube hoje é outra. A pressão (naquela época) acho que era até pior com um time mais inferior, mais limitado e com a mesma responsabilidade. O trabalho fica mais difícil.
*Prass se refere a briga com torcedores em Buenos Aires, no aeroporto, após derrota para o Tigres na Argentina, quando uma xícara arremessada por um torcedor para acertar Valdívia acabou acertando Prass. Ele levou três pontos na cabeça e sofreu um corte na orelha.
EI: Consegue explicar o tamanho da diferença entre o Palmeiras daquela época e o Palmeiras de hoje?
Prass: A instituição é a mesma. Muda a parte física e, em relação aos jogadores, o time é muito mais forte, o grupo é mais forte. Hoje, o clube tem uma situação estrutural, organizacional e financeira em um outro nível. A gente tem excelência em praticamente todas as áreas, se não em todas. Naquela época, a éramos um clube em reestruturação e era apenas o começo. Era bem o início de toda essa transformação que o Palmeiras passou. Quem está desde 2013, final de 2012, consegue notar muito bem isso tanto dentro de campo quanto na parte externa.
EI: Por que a reconstrução do Palmeiras, que se iniciou naquele ano, deu certo a ponto de hoje o Palmeiras ser considerado um dos times mais fortes da América?
Prass: Acho que o biênio 13/14 foi fundamental. Já vi muitos clubes passarem por um momento de reestruturação, entretanto, quando vêm os primeiros resultados negativos, tudo vai por água abaixo, as pessoas jogam o planejamento fora e as coisas se atrapalham de novo. No Palmeiras, graças a Deus, nos anos de dificuldade, em 2013 e 2014, não saímos do trilho. Foram anos difíceis. Muito complicados. Mas é o que eu sempre falo: 'ninguém colhe nada sem plantar e sem semear. Às vezes, a semeadura é a parte mais difícil. A semente está embaixo da terra e você não vê a germinação. Você não vê o fruto. Então é difícil você ter convicção, mas foi o que o Palmeiras teve. Teve convicção e agora está colhendo os frutos daquele trabalho de 2013/2014.
EI: Para muitos, o Palmeiras tem um dos times mais técnicos da Libertadores. Entretanto, muitos falam que para vencer o torneio não basta técnica. Como você enxergar esse tipo de análise?
Prass: No futebol não basta só técnica, como não basta só força. Se você pegar um time forte que só quer dar porrada, só o jogo físico não vai fazer você ganhar. O time precisa unir as duas coisas. É muito mais fácil pegar um time técnico, com qualidade, e torná-lo competitivo do que fazer o contrário.
Prass: Eu duvido que essas pessoas que consideram o Alianza Lima mais fraco tenham visto 10 jogos desse time. As pessoas vão muito pela tradição do futebol, pelo país, nome dos jogadores, e a gente já viu muitos exemplos, como o Once Caldas-COL, LDU-ECU ou até o Lanús-ARG que chegou na final tirando o River Plate-ARG no ano passado. Temos que ter muito cuidado com isso. Essas análises, sinceramente, não são levadas em conta por mim. Depois de analisar os jogos deles, ter um enfrentamento, aí sim podemos ter uma análise mais correta. Muitas vezes o futebol brasileiro se deixa apanhar nessas armadilhas, não dando determinada atenção para algumas equipes pelo fato de não terem tanta mídia, tanto marketing e por isso acabam caindo nessas armadilhas. Nós, que já jogamos várias Libertadores, não podemos cair em uma cilada como essa.
EI: Fazendo uma análise dos grupos da Libertadores. De 0 a 10. Como você vê esse grupo 8 do Palmeiras?
Prass: Temos que encarar como dificuldade 10. Você se prepara para a dificuldade para encontrar a facilidade. É um grupo muito difícil. São times que disputam Libertadores todos os anos, uns mais conhecidos, outros menos, tanto que o Boca Juniors-ARG, que é um time que investiu muito como River Plate-ARG, Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio, empatou em 0 a 0 com o Alianza Lima-PER. Isso quer dizer que o Alianza não deve ser tão fraco assim como as pessoas acham (risos). Em relação ao grupo, assim como o do Flamengo, é um dos grupos mais difíceis da Libertadores.
Confira todos os resultados na íntegra:
14 de abril de 1971 - Universitário 1 a 2 Palmeiras
06 de maio de 1971 - Palmeiras 3 a 0 Universitário
10 de março de 1979 - Alianza 2 a 4 Palmeiras
13 de março de 1979 - Universitário 2 a 5 Palmeiras
8 de abril de 1979 - Palmeiras 1 a 2 Universitário
12 de abril de 1979 - Palmeiras 4 a 0 Alianza Lima
14 de março de 2001 - Sport Boys 1 a 4 Palmeiras
11 de abril de 2001 - Palmeiras 3 a 0 Sport Boys
14 de fevereiro de 2013 - Palmeiras 2 a 1 Sporting Cristal
18 de abril de 2013 - Sporting Cristal 1 a 0 Palmeiras
FONTE: ESPORTE INTERATIVO